Como o Geopanoramas virou livro
Bruna Próspero, da revista Travessias, conta o que faz um livro existir e como viu isso acontecer com o "Somos Paisagem", novo livro de Adriano Liziero.
“Quando é o exato momento em que um escritor começa a escrever um livro?”
Eu sempre me pego pensando sobre isso. Até hoje nenhum escritor ou escritora conseguiu me responder ou, pelo menos, não me convenceu da resposta. Sinto que a escrita de um livro começa muito antes daquele instante em que o autor se senta diante de uma tela em branco no Word.
Ao pressentir isso, nem cheguei a fazer essa pergunta para o Adriano Liziero que está escrevendo seu primeiro livro e que já tem um título e tanto: “Somos Paisagem”.
Mas, antes de falar sobre esse livro, acho de bom tom me apresentar. Sou Bruna Próspero, da Travessias, a Revista Digital da Bambual Editora (que vai publicar o "Somos Paisagem”) e estou participando da equipe por trás do financiamento coletivo que trará esse livro ao mundo.
Agora sim, voltemos ao assunto. Não achei necessário perguntar quando o livro começou a tomar forma, porque diante das nossas reuniões para a divulgação do financiamento coletivo, fiquei com a sensação de que a concepção da ideia dessa obra impressa começou há três anos, quando Adriano lançou o Geopanoramas.
Não que ele já tivesse a clareza de capítulos, títulos, personagens, cidades e tudo mais que envolve pensar um livro, mas essa vontade de comunicar, educar e denunciar a exploração absurda que os seres humanos estão fazendo em todo o planeta através de imagens e contextualizações históricas já anunciava esse desejo subjetivo de levar histórias, conhecimento e reflexões para as pessoas. E, cá entre nós, o projeto Geopanoramas é um belo “prefácio” dessa obra que vem aí. Não espere ver os conteúdos repetidos. No livro, o Adriano desloca o nosso olhar, que começa vendo as paisagens de cima, mas chega nas histórias que estão lá embaixo.
Adriano aprofundará sua pesquisa feita durante esses anos e destacará dez localidades brasileiras que impressionam por suas paisagens aéreas, causadas por desastres, desrespeito ou ignorância, e que também é composta por cheiros, sabores, seres humanos e não-humanos. Algumas cidades que estarão no livro são: Manaus (AM), Brumadinho (MG), Maceió (AL), Bertioga (SP), Santos (SP) e São Paulo (SP).
Acho que essa vontade de escrever um livro ganhou força mesmo quando Adriano passou a conhecer as pessoas que compunham essas imagens, que serão as personagens fundamentais dessa narrativa. E - principalmente- quando se deu conta de que o público que acompanha seu trabalho estava esperando por uma obra que pudessem ter em casa. Que pudessem espalhar nas bibliotecas e escolas, fazer seus grifos e anotações pessoais, dar de presente…
Eu faço parte dessas pessoas. Toda semana nos reunimos, eu, Adriano, Isabel (Publisher da Bambual Editora), Fernando (designer da campanha) e Tielle (responsável pelo contato direto com os apoiadores) e toda semana sinto mais e mais curiosidade para conhecer essas histórias a fundo.
No nosso último encontro saí incumbida de preparar um e-mail para os assinantes do Geopanoramas apresentando o livro, mas sem muitos spoilers. Então decidi começar pela capa e pelo projeto gráfico (que já vem recebendo elogios de quem viu a prévia nos stories do Adriano). Conversei com a Luiza Chamma, responsável pelo trabalho gráfico e trago aqui um gostinho para você conhecer mais:
Pode contar um pouco sobre o processo criativo para pensar o projeto gráfico como um todo?
Luiza: Adriano me pediu para o projeto gráfico do livro conversar com a identidade visual (já desenvolvida) da Geopanoramas, utilizando principalmente as mesmas cores. Então a cartela de cores já veio pré-estabelecida.
Pensei em uma nova tipografia para compor os títulos do livro. Essa família tipográfica utilizada (que apresenta curvas precisas e ângulos afiados) traz um ar contemporâneo e tecnológico ao projeto, o que acaba se relacionando com as imagens de satélite do Google Earth, que são feitas por empresas de alta tecnologia espacial.
Além desse aspecto, o projeto do Adriano é também muito humano, pois busca conhecer os lugares “no nível do chão”, entrevistando pessoas locais e buscando histórias. Por isso, combinada a essa tipografia, quis dar um toque mais acolhedor com a escolha de um papel que oferece uma experiência sensorial confortável, macio ao toque com uma textura e com uma leve tonalidade - o papel polén bold. As cores vibrantes (principalmente o vermelho e o azul cyan) também ajudam a trazer esse aspecto vivo do projeto.
Quais foram os desafios para pensar e realizar a concepção do projeto gráfico?
Luiza: As imagens de satélite coletadas pelo Adriano são muito impactantes, tanto pelo o que elas representam, quanto pela riqueza visual. Minha primeira ideia, para as aberturas de capítulo, foi de utilizar essas imagens em uma cor ampliadas na página, para essa riqueza gráfica (quase abstrata) saltar aos olhos, mas infelizmente não foi possível seguir com essa proposta pois as imagens do Google Earth não podem ser modificadas em razão do direito autoral. A solução então foi usar os grafismos das curvas de nível, que também se relacionam muito ao projeto e tem bastante força visual. As curvas de nível são representações do relevo produzidas através da utilização de linhas imaginárias. E assim a solução foi brincar com as combinações de cor e variações das formas na abertura de cada capítulo.
O livro já está recebendo muitos elogios sobre a capa. Pode contar mais sobre ela?
Luiza: A imagem da capa foi uma escolha do Adriano. É a famosa “ilha das impressões digitais”, se chama Baljenac e fica na Croácia. É uma ilha coberta por uma série de paredes de pedra seca e quando vistas de cima, parecem uma impressão digital. É uma imagem muito forte e a ideia foi criar uma capa clean, com uma tipografia que não interferisse muito na imagem. E o conceito da impressão digital tem tudo a ver com o projeto. Adriano diz “as paisagens são as impressões digitais das ações humanas”. Ele pesquisa sobre a identidade de cada lugar, como os lugares são reflexo de quem somos, trazendo uma visão socioambiental e ampla.
»Você pode conhecer mais do trabalho da Luiza no Instagram: @luiza_chamma no site: www.luizachamma.com
“E como eu faço para adquirir esse livro?”
Depois dessa “propaganda” toda você deve estar me perguntando exatamente isso, certo?
O livro só será publicado através de um financiamento coletivo.
Com a experiência que Adriano tem no mundo editorial didático, ele sabe que os livros precisam ser preparados cuidadosamente. Por isso, ele está indo pessoalmente em todas as localidades que serão apresentadas no livro - e isto demanda tempo, viagens e recursos.
Até o momento, ele contou somente com recursos próprios para a produção dos conteúdos e reflexões do Geopanoramas. Para terminar a pesquisa e publicar este livro são necessários mais recursos que serão arrecadados com a campanha de financiamento coletivo.
Ele poderá ser adquirido no dia 21 de setembro – Dia da Árvore –, pela plataforma Benfeitoria, no link: www.benfeitoria.com/somospaisagem. É importante que as pessoas interessadas façam suas contribuições nos dois primeiros dias da campanha e ajude em sua divulgação. A tiragem do livro será limitada, pois a licença das fotos orbitais não permite muitas reproduções.
Para receber o lembrete logo nas primeiras horas da campanha, participe do grupo silencioso no WhatsApp.
Você, leitor da newsletter do Geopanoramas e que acompanha o trabalho do Adriano há algum tempo, também faz parte dessa equipe que está trazendo esse livro ao mundo.
Por isso, traremos as notícias dos bastidores da campanha, do desenvolvimento do livro e também pediremos a sua opinião sempre que necessário.
Um livro começa a ser feito pelas andanças e vivências de quem o escreve. Depois passa pelas mãos e olhares de muita gente envolvida. Mas só ganha o mundo mesmo quando é lido. Só existe, de verdade, por conta dos leitores.
Façamos esse livro existir juntas, juntos e juntes!